Telexfree é investigada por golpes disfarçados de investimentos
Investigação apura suposto esquema de pirâmide financeira na Telexfree.
Promessa de dinheiro fácil enche os olhos das pessoas, diz delegada.
Juirana Nobres, Juliana Borges e Leandro Nossa
Do G1 ES
A suspeita de golpes financeiros disfarçados de investimentos é investigada na empresa Telexfree, com sede no Espírito Santo,
pela Secretaria Nacional de Defesa do Consumidor (Senacon), órgão
vinculado ao Ministério da Justiça (MJ), pelo Ministério Público
Estadual (MP-ES) e pela Polícia Civil. A firma vende um programa de
computador que permite ligações locais, de DDD e DDI ilimitadas e, para
tornar o serviço conhecido, oferece dinheiro para internautas criarem
anúncios gratuitos na web. A Delegacia de Defraudações e Falsificações
(Defa) informou que algumas pessoas chegaram a pagar R$ 3 mil para
entrar no esquema e reclamaram por não ter o retorno prometido.
O MP-ES informou que recebeu o inquérito da Polícia Civil sobre a
atuação da empresa no estado e encaminhou o parecer à Defa, na última
sexta-feira (8). A titular da Defa, Gracimeri Gaviorno, começou a ouvir
alguns divulgadores e promotores da empresa. Segundo ela, há relatos de
pessoas que pagaram de R$ 300 e até R$ 3 mil em planos de adesão. De
acordo com o Ministério da Justiça,
a empresa também é investigada pela Secretaria Nacional de Defesa do
Consumidor (Senacon), que apura crimes contra a economia popular e
desrespeito às regras do Código de Defesa do Consumidor. A suspeita é da
prática de modelo de negócios que se assemelha ao esquema de pirâmide
financeira.
A delegada explicou que a promessa de dinheiro fácil enche os olhos das
pessoas. "A história de uma mulher me chamou a atenção, pois ela
adquiriu um plano, em torno de R$ 3 mil, e tinha 60 dias para chamar
mais duas pessoas para integrar seu grupo de divulgadores. Ela acabou
falhando, mas adquiriu o plano novamente, pelo mesmo valor, e adicionou a
si mesma no grupo, conseguindo a quantia de U$ 100 em cima do próprio
dinheiro. Está aí o ponto que me chamou a atenção, pois ela ficou muito
contente com isso, apesar de não ter ganhado nada", contou.
Reclamações
O G1 visitou a sede da Telexfree, em Vitória, na manhã desta
segunda-feira (11), e, na ocasião, nenhum responsável foi localizado. No
prédio, um morador de Rondônia
que fez o serviço de divulgador da empresa tentava registrar uma
reclamação. Sem querer se identificar, ele disse que não responderam
nenhum dos seus contatos e que não recebeu o dinheiro pelo trabalho.
Na internet, também é comum encontrar reclamações sobre a Telexfree
vindas de todo o país. O morador de Jaboatão dos Guararapes, em
Pernambuco, Fabio de Sanctis, diz que tentou por várias vezes cancelar
sua participação na empresa, sem sucesso. "Só consegui resolver através
da pessoa que me colocou lá, e não pela empresa. Me senti enganado.
Tinham me prometido uma coisa, mas funciona de maneira diferente. Me
falaram que bastava US$ 290, que teria retorno, mas depois descobri que
teria que colocar duas outras pessoas abaixo de mim e comprar outros
pacotes", contou.
O morador de Cuiabá, em Mato Grosso, Carlos Santos, também reclama que
não consegue contato com a empresa. "O contrato deles comigo é antigo e
agora querem jogar um novo contrato. Não quero isso, mas não consigo
entrar em contato com eles. Não recebi nenhuma vez o contato deles”,
disse. Fabio de Sanctis acredita que o problema está cada vez mais comum
e que a situação deve piorar. "Acho que, sinceramente, uma hora isso
vai estourar em algum lugar", disse.
Promessa de dinheiro fácil enche os olhos das pessoas"
Gracimeri Gaviorno, delegada
Suposto esquema
A delegada explicou que para o suposto esquema funcionar, há a
apresentação de um produto, que nesse caso é o serviço de telefonia
VoIP. "Esse produto, na verdade, é uma máscara. As pessoas dizem que
aderem planos que dão direito a certo número de divulgações. As que já
estão inseridas no esquema precisam convidar outras pessoas, que também
vão investir dinheiro e isso vai sustentando quem o convidou. Mas chega
uma hora que não dá para incluir mais ninguém na base e a pirâmide rui,
gerando muitos prejuízos. Só não tem prejuízo que está no topo, que já
ganhou muito dinheiro", explicou.
As primeiras informações sobre o suposto esquema surgiram no estado do
Paraná e depois foram enviadas para o Espírito Santo, sede da empresa.
De acordo com a delegada, há indicativos de que a Telexfree age em pelo
menos seis estados, mas esse número ainda pode aumentar. "Ainda estamos
no início das investigações. As pessoas envolvidas, que são responsáveis
por esse esquema ilegal ou que sabem que se trata de algo proibido,
podem se enquadrar nos casos de crime contra a economia popular e crime
de induzimento à especulação", disse.
Telexfree
O advogado da Telexfree, Horst Fuchs , disse ao G1, na manhã desta
terça-feira (12), que toda a estrutura do sistema de bonificação da
empresa é legal, pagam impostos e tributos corretamente. Disse ainda que
a Telexfree está disponível para esclarecimentos à polícia. “As
investigações são oportunas. A Telexfree é um dos assuntos mais
comentados no Brasil e o resultado dessas investigações serão
favoráveis. Estamos esperando uma ação declaratória de um juiz, que pode
comprovar que nosso trabalho é totalmente legal. Não existe uma lei no
Brasil que diga que o que fazemos é errado”, defendeu.
De acordo com o advogado, a Telexfree foi idealizada por um especialista
em marketing, o capixaba Carlos Costa, e inaugurada em fevereiro de
2012, no Boulevard da Praia, em Vitória.
Atualmente, a empresa tem aproximadamente 100 funcionários, tem sede
oficial no Espírito Santo e está presente em 40 países, como EUA,
México, Espanha, Portugal e Canadá.
Serviço
Fuchs explicou que a empresa trabalha com o serviço de telefonia via
internet, chamada VoIP (voz sobre IP). Para isso, recruta pessoas que
publicam anúncios do produto em redes sociais e sites. “Uma pessoa
qualquer compra pacotes com contas VoIP e revendem cada conta pelo dobro
do preço. Quanto mais pacotes, mais linhas e, consequentemente, mais
retorno financeiro. Por exemplo, o indivíduo compra um pacote com 10
contas por U$ 289 (dólares), ou seja, U$S 28,90 cada, e pode revender
cada uma linha por até U$S 49,90. Obtendo assim, quase 100 % de lucro”,
detalhou.
O advogado disse que as pessoas que entram nesse negócio são conhecidas
como "divulgadores". No mundo, existem mais de 600 divulgadores da
empresa. Desses, 90% são brasileiros. Para ser um divulgador é
necessário usar o CPF e pagar uma taxa de adesão de U$ 50 (em média R$
100).
Ele diz que, em casos raros, o divulgador consegue vender muitas contas e
consegue arrecadar até R$ 1 milhão em apenas um ano. “Para isso é
preciso um grande desempenho e vocação para vender. Nossos grandes
divulgadores não trabalham sozinhos, contratam uma equipe e se dedicam a
vender as contas Voip. Já a maioria, trabalha sozinha e consegue uma
renda mensal de R$ 4 a 8 mil”, disse.
Site da Telexfree oferece dinheiro por anúncios grátis.
http://www.suportetelexfree.com.br/telexfree-como-funciona
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Pirâmide financeira
Na pirâmide financeira, o divulgador faz um pagamento e tem a promessa
de recompensa vinda do recrutamento de outras pessoas. No final, o
dinheiro percorre a pirâmide e, apenas os indivíduos que estão na ponta
do negócio - o idealizador e poucos investidores - ganham. As pessoas
que estão na base do esquema assinam o plano, mas não são capazes de
recrutar seguidores.
Para o economista e membro do Conselho de Economia do Espírito Santo,
Sebastião Ballarini, esse tipo de fraude sempre existiu, mas atualmente
ganhou força com a internet. “Alguém lança uma ideia e os primeiros que
entram no esquema ganham com aqueles que vêm depois. Aqueles que fazem
parte do topo da pirâmide servem de chamariz para os outros”, explicou.
O advogado da Telexfree, Horst Fuchs, nega que a empresa se enquadre no
esquema criminoso da pirâmide financeira. “Usamos o sistema de
'marketing multinível' que é totalmente lícito. No nosso negócio uma
pessoa comum tem um contrato limitado de um ano e para ganhar dinheiro é
preciso anunciar o produto. Se não fizer isso, pode não ganhar nada. Na
pirâmide, os últimos a entrar no negócio trabalham para enriquecer os
primeiros, que já estão com os braços cruzados”, explicou o advogado.
Orientações
O Ministério da Justiça divulgou um boletim publicado pelo Departamento
de Proteção e Defesa do Consumidor e pela Comissão de Valores
Mobiliários (CVM) que coloca em pauta golpes financeiros e orienta ao
consumidor a não cair em fraudes.
De acordo com o boletim, estar bem informado é o primeiro passo para
escapar dos investimentos irregulares. É preciso investigar bem antes de
investir: procure conhecer o mercado, a formação do investidor é uma
atividade permanente. Além dos recursos oferecidos pelos participantes
do mercado, consulte a área educacional do site da CVM - Proteção e
Educação ao Investidor - ou o Portal do Investidor.
O documento ainda orienta a proteger a informações, como as senhas por
exemplo, e desconfiar das promessas de retornos elevados com baixo
risco. “Rentabilidade e risco andam de mãos dadas. Se é bom demais pra
ser verdade, provavelmente não é”, alerta o boletim.
De acordo com o Ministério da Justiça, em caso de irregularidades, o
consumidor deve apresentar uma denúncia ou reclamação à CVM. As demandas
podem ser encaminhadas por meio do Serviço de Atendimento ao Cidadão
(SAC), no link “Fale com a CVM”. A comissão vai investigar a reclamação,
podendo aplicar as penalidades previstas em lei.
http://gilbertolimajornalista.blogspot.com.br/2013/03/telexfree-e-investigada-por-golpes.html
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